De maneira que era uma terrazinha que havia no Alentejo, pequenina. E então os homens costumavam-se sentar, já assim velhotezinhos, sentar todos assim num banco. E havia um que era muito bom, muito bom, muito bom, desde pequenino que era muito bom, mas sempre foram amigos até serem velhos, e havia outro que era muito mau. Manê’ que aquele qu’ era muito mau batia, já tinha batido em todos, menos naquele que era muito bom que nunca arranjou um pé p’ra lhe bater.
–– Homem esta! Atã mas tenho batido neles todos e neste na lh’ hei-de bater?! Ê tenh’ qu’ arrenjar um porquem p’ra lhe bater.
Os ôtros deziam-lhe:
–– Mas o qu’ é que tu queres arrenjar se vês qu’ és piquinino e já temos todos sessenta anos e ’inda n’ arrenjastes um pé p’ra bateres no rapaz, no homem, e agora queres-lhe bater já com esta idade?!
–– Bat’-lhe! Ê na morro sem lhe bater!
Bom, o homem tinha o jeito que condo chigava ali, cond’ chigava ali p’ra, cond’ se juntavom todos ali naquele banco, e ali naquele... sentavom-se em volta ali duma árvore que havia, dizer aquela palavra: «tem graça!». Dizia sempre: «tem graça!»
O outro começou a pensar um dia: «homem, há tantos anos dezendo sempre “tem graça”, por aqui é que tem que começar. Ê por esta palavra tem’ que lhe bater!
Ora os outros deziom:
–– Tão agora o homem diz: «tem graça» e queres-lhe bater?!
–– Virão a ver s’ ê nã lh’ heid’ bater!
Manêra que um dia o homem chega, todos sentados e diz:
–– Tem graça!
Diz el’ aqui assim:
–– Ah sim?! Tal é o que me chamastes!?
— Atã’ o qu’ é qu’ o homem te chamou? –– todos eles — atã o qu’ é qu’ o homem te chamou? Tem dito sempre: «tem graça»!?
— Olhem! Ê vou-lhe dezer o que ele me chamou, e virão a sova qu’ el’ apanha! «Tem graça!» Olhem: graça do Senhor; Senhor dos Passos; paços de concelho; conselho de guerra; guerra junqueira; junqueira água; água mar; mar azul; azul tinta; tinta papel; papel branco; branco leite; leite de vaca; vaca boi; boi tem cornos; chamou--me cabrão!
Deu-lh’ uma sova, e os outros:
–– Dêx’ ô homem! Dêx’ ô homem!
–– Não o deixo que me chamou cabrão! Tem’ que bater-lhe.
Vitória vitória, acabou-se a história.
Informante: Francisca Calvinho, Vila Verde de Ficalho (Serpa)
Recolhido em Abril de 2009
Sem comentários:
Enviar um comentário