segunda-feira, 7 de junho de 2010

A HORA DO CONTO

Susete Vargas

Francisca Calvinho

A biblioteca da escola promove, quinzenalmente, desde o ano lectivo de 2008/2009 o espaço de narração oral tradicional, a “Hora do Conto”, dinamizado pelo professor António Lopes, a quem, este ano lectivo se juntou a professora Teresa Caldeira.
A “Hora do Conto” pretende dar um contributo real para que os nossos alunos cresçam em conformidade com as referências culturais da nossa terra, e pretende contribuir para manter vivo o conto popular da tradição oral.
A par da participação dos docentes como contadores de histórias, tem também sido possível trazer regularmente ao convívio com uma plateia de alunos, sempre muito interessados, alguns contadores tradicionais, dos poucos que ainda se encontram por cá, com o repertório que ainda lhes resta: Susete Vargas, de Vale do Poço e Francisca Calvinho, de Vila Verde de Ficalho, estando a participação desta última integrada na Semana da Leitura. Estas contadoras deliciaram a assistência, constituída por alunos dos 2º e 3º ciclos, e respectivos professores.

Fomos encontrá-los por indicação de alunos, de colegas, ou outros elementos da comunidade educativa, na sua casa, na aldeia, na vila, outros no seu recôndito monte alentejano. Ainda há quem conte. Diminuídos estão os repertórios já que a prática de contar se foi perdendo. Mas a memória privilegiada destes artesãos ainda guarda algumas pérolas que nos foi dado poder ouvir no seu ambiente próprio: a casa do contador. Foi na sequência desta actividade de recolha, inserida na actividade cultural da biblioteca da escola, e no projecto “Contos d’Aqui”, que surgiu o espaço Hora do Conto.
A magia da palavra, as viagens aos medos por vencer, ao encanto dos heróis, e ao tempo do onírico ou do riso, é já uma actividade de referência do Agrupamento de Escolas de Serpa.

PROVÉRBIOS

Entre muitos dos provérbios existentes na nossa sociedade, refiro um dos que mais gosto: “Devagar se vai ao longe”. Na minha opinião este provérbio é muito interessante e, realmente, é verdade. Quando ouvimos este provérbio, falo por mim, relembro-me, de imediato, da história da tartaruga e do coelho, tendo este proposto uma corrida à “pobre coitada” convencido de que iria ganhar por ser mais rápido do que a tartaruga. Com o pacto de que se ela ganhasse, o coelho a deixaria em paz para sempre e não gozaria mais com ela por ser lenta. Então, assim foi: começou a corrida e o coelho todo feliz e alegre, começou por ir devagar. Passado algum tempo, quando este quase que chega à meta, viu que a tartaruga ainda vinha muito longe, e decidiu descansar e dormir encostado a uma árvore. Deixou que o sono se “apoderasse” do seu cansaço e quando acordou reparou que a sua “amiga” tartaruga já estava prestes a chegar à meta. Ainda tentou correr, mas quando lá chegou, a tartaruga já tinha ganho. Ficou triste por ter perdido a corrida e, desapontado consigo próprio, por ter adormecido. Com esta história, eu concluí que se nós fizermos as coisas com calma, nunca perdendo a esperança e não sendo convencidos, poderemos ir muito mais longe do que aquilo que julgamos ser capazes, ou seja, neste caso havia situações bastante diferentes: a tartaruga que andava muito lentamente e o coelho que era bastante rápido.

Vou também fazer alusão a outro conto “O Sal e a Água”, onde havia um Rei que tinha três filhas. Uma delas foi expulsa pelo seu pai, pois ouviu dizer que ela não gostava dele. Com isto, a filha realizou um banquete onde convidou o seu pai e irmãs deixando, propositadamente, a comida sem sal para demonstrar ao seu próprio pai o quanto gostava dele, ou seja, como a comida necessita de sal, assim a filha gosta muitíssimo do seu pai.

Sofia Elisário, 9.º B

LITERATURA ORAL TRADICIONAL

A literatura oral tradicional pode ser considerada um género de literatura ou não, pois trata-se de contos, dizeres, anedotas (entre outros) passados de geração em geração, por via oral. Geralmente, quando se pensa em literatura, vêm-nos à mente grandes narrativas, obras do género dramático ou poesia, mas a literatura oral tradicional é o género que liga a população e as diferentes gerações e o que em tempos era a maneira de desenvolver a língua.
Das características da literatura oral tradicional, talvez a mais importante seja que todos os contos têm um carácter lúdico mas, ao mesmo tempo, educativo. Nos textos tradicionais há sempre uma lição de moral transmitida, muitas vezes, por textos ou dizeres divertidos e muito estereotipados. Por exemplo, na história do Capuchinho Vermelho, o lobo mau representa os homens que queriam violar as meninas nas aldeias (simbolizadas pela Capuchinho Vermelho). A literatura oral tradicional, como o nome indica, é passada de boca em boca, de avós para netos, de pais para filhos, etc., e antigamente era uma forma de as pessoas se divertirem.
A literatura oral tradicional pode tomar vários géneros: a anedota, o conto, a adivinha, o provérbio, a lenda, entre outros. Na anedota, na adivinha e no provérbio, a extensão do texto é reduzida, mas sendo dita de uma forma simples tem grande impacto.
Hoje em dia, a maneira de aprender valores e desenvolver a língua é indo à escola, mas na infância os pais ainda contam aos filhos “histórias de embalar” que são, muitas vezes, contos tradicionais. Na minha opinião, devia ser mais cultivado o hábito de contar contos e lendas às crianças, pois essa seria uma boa maneira de lhes desenvolver naturalmente a imaginação e dar noções de valores, sem ter de recorrer a videojogos, por exemplo. A literatura oral tradicional é, a bem dizer, um legado da cultura do nosso país – não será essa uma boa razão para preservá-lo?
Um dos provérbios mais conhecidos é: “Quem tudo quer, tudo perde”. Gosto desse provérbio, pois transmite um ensinamento importante. Este ditado mostra que a cobiça não é solução e que, quando o Homem se deixa levar, acaba magoado. O feitiço vira-se contra o feiticeiro!

Joana Almeida, 9.º B

segunda-feira, 31 de maio de 2010

DRAMATIZAÇÃO | O JOÃO PARVO


O João Parvo

Cenários: Casa do João (Cozinha); Rua
Personagens: João, Mãe, dois rapazes, pessoas da matança, do funeral, do azeite, o Sr. Almeida, o ladrão, o pastor e o homem com prisão de ventre.

Acto I

Cena I
Casa do Parvo, mão e filho

(A mãe do Parvo estava a coser roupa e o filho estava a brincar no chão. De repente, a agulha parte-se)

Mãe – Ora bolas! Olha, vai comprar uma agulha para a mãe te coser as calças.

Parvo – Está bem! Dá-me aí umas moedinhas que eu não tenho dinheiro.

Mãe – Toma lá, mas vê se não a perdes. Eu não tenho mais dinheiro nenhum aqui comigo. Traz sempre a agulha na mão e não a pouses em lado nenhum.


Acto II

Cena I

Rua, rapazes e parvo

(Dois rapazes estavam a jogar à bola junto à casa do parvo)

Parvo (a olhar para os rapazes) – Que bacano! Eu também quero jogar. Deixa lá meter aqui a agulha na palha para não a perder…


Cena II
(Os rapazes vão-se embora e fica o Parvo)

Parvo (a vasculhar na palha) – Chiça penico! Então agora a agulha fugiu da palha? A mãe vai-me dar cá uma descasca (muito nervoso).


Acto III

Cena I

(Casa do Parvo)

Mãe – Vá filhinho! Dá a agulha à mãe que eu daqui a pouco tenho de ir fazer a açorda e dar de comer às galinhas.

Parvo (olhando para um espaço no infinito e com um ar muito maroto) – Perdi-a!

Mãe (zangada) – Oh, Jesus que é Santo! O que fizeste tu à agulha?

Parvo (meio confuso, meio chorando) – Ai mãe! Eu trazia a agulha na mão como tu disseste, mas depois vi uns moços ali a jogar à bola e quis ir brincar com eles. Então meti a agulha na palha e fui.

Mãe (levando a mão à testa) – Na palha, borcalho? Nunca ouviste dizer que é muito difícil achar uma agulha no palheiro? Tu então que és meio parvo nem num montinho de palha a encontras!

Parvo – O que querias tu que eu fizesse.

Mãe – Tinhas metido a agulha na pala do boné e não a perdias...Olha, antes que faças mais alguma asneira, vai-me lá comprar manteiga que a gente não tem nada para comer com o pão.


Acto IV

Cena I
(Rua, rapaz e Sr. Almeida)

Sr. Almeida – Então João, o que é que queres?

Parvo – Queria um pouco de manteiga e meta no meu boné.

Sr. Almeida – No boné?

Parvo – Sim! A minha mãe disse que era para fazer assim. Ela, a minha mãe, vai ficar toda contente!


Acto V

Cena I

(Casa do Parvo)

Mãe – Então, filho? Onde puseste a manteiguinha?

Parvo (tirando o chapéu e mostrando-o à mãe) – Está aqui no boné, como tu disseste.

Mãe (irritada) – Valha-me nossa Senhora! Puseste a manteiga no chapéu? Agora não se come nada!

Parvo – Mau! Não era no chapéu que era para pôr?

Mãe – Seu grande imbecil! Tinhas metido na tigela!

Parvo – Tá bem!


Acto VI

Cena I
(Rua, Parvo e amigo)

Carlos – Olha, vai lá a minha casa que eu dou-te um cãozinho. Leva uma coisa qualquer que o bobi é muito pequenino.

Parvo – Boa! Espera aí que eu já venho!


Acto VII

Cena I
(Casa do Parvo, Parvo e Mãe)

Parvo – Mãe? Olha aqui o que eu arranjei!

Mãe – Um canito, meu palhaço? E ainda por cima na tigela onde eu faço o comer, as açordas, as migas… Olha lá o que o cão fez aí, borrou-se todo!

Parvo – O que querias tu que eu fizesse?

Mãe – Tinhas levado uma cordinha, atavas ao cão e dizias “bucha, bucha, bucha” que ele vinha.

Dias mais tarde…

Mãe (aflita) – Ai filho, acode lá aqui à mãe que a garrafa do vinho partiu-se-me!

Parvo – Da cá dinheiro para ir comprá-la. Vou só buscar uma corda.

Daí a pouco…

Mãe - Acabou-se! Perdes-me a agulha, derretes-me a manteiga, borras-me a tigela e agora partes-me a garrafa de vinho? Toma mas é a viola do teu pai e vê se ganhas algum dinheiro.


Acto VIII

Cena I

(Rua, Parvo e várias personagens)

Parvo (olhando para as pessoas do funeral) – É agora que eu ganho a vida!

(Chega-se ao pé das pessoas e toca a música do funeral; depois coloca-se ao lado do caixão e bate-lhe)

Alguns no funeral – Mas que coisa é esta! Sai já daqui! Não vês que isto é um funeral? Quando chegas ao pé de uma multidão de gente destas começas a chorar! Agora desanda daqui!

O Parvo sai a correr. Mais à frente encontra uma matança.


Acto IX

Cena I
(Rua, Parvo e várias personagens)

Parvo (a chorar) – Ai que desgraça! O porquinho morreu!

Paulo – Mas que choradeira é essa? Isto é um local de alegria, não há aqui tristeza. Quando chegares a uma ocasião destas, dás uma palmada nas costas de alguém e dizes “Muita saúde tenha quem te coma!” Pira-te.

O Parvo sai a correr. Mais à frente está um homem com prisão de ventre.


Acto XI

Cena I

(Rua, Parvo e Homem)

Parvo (dando-lhe uma palmada nas costas) – Muita saúde tenha quem te coma!

Paulo – Então homem? Dizes-me uma coisa destas. Quando vires um problema destes, dizes “Deus queira que saia todo!” para uma pessoa ficar aliviada. Pisga-te daqui!

O Parvo sai a andar. Mais à frente vê um barril a deitar fora azeite e pessoas muito aflitas.


Acto X

Cena I

(Rua, Gente)

Parvo (entusiasmado) – Deus queira que saia todo! Deus queira que saia todo!

Carlos – Então está parvo? Numa situação destas, diz: “Deus queira que não saia nenhum”. Agora sai daqui antes que o pote te caia em cima.

O Parvo sai a correr. Daí a pouco vê um pastor aflito por ter os porcos enterrados na lama.


Acto XI

Cena I

(Rua, Pastor)

Parvo (de novo entusiasmado) – Deus queira que não saia nenhum! Deus queira que não saia nenhum!

Paulo – Então o que é isto?! Eu quero que os porcos entrem nas pocilgas e tu vens aqui feito parvo? Sai imediatamente daqui!

Parvo sai de novo a correr. Já cansado, senta-se encostado à parede de uma casa com a viola ao lado. É então que um ladrão lhe rouba a viola. Este corre atrás dele, tropeça e encontra um pote de ouro e vai a correr para casa todo contente. Quando está mesmo a chegar, tropeça e derrama o ouro pelo chão perdendo-o todo.


Acto XI

Cena I

(Rua, Parvo)

Parvo – Ora bolas! Fiquei pobre outra vez!


A partir de um conto contado por Francisca Valente Calvinho de Vila Verde de Ficalho.

TEATRO | O JOÃO PARVO (parte 2)

Dramatização para teatro do conto "O João Parvo", contado por Francisca Valente Calvinho, de 71 anos, natural de Vila Verde de Ficalho.
A dramatização foi levada a efeito pela turma 8ºB, nas aulas de Língua Portuguesa com a professora Palmira Rodrigues, a partir da recolha original, já publicada neste blog.
Foi apresentado ao público na cerimónia de entrega de prémios do Concurso de Escrita Criativa da escola EB 2,3 Abade Correia da Serra, no dia 4 de Fevereiro de 2010.




TEATRO | O JOÃO PARVO (parte 1)

Dramatização para teatro do conto "O João Parvo", contado por Francisca Calvinho Valente, de 71 anos, natural de Vila Verde de Ficalho.
A dramatização foi levada a efeito pela turma 8ºB, nas aulas de Língua Portuguesa com a professora Palmira Rodrigues, a partir da recolha original, já publicada neste blog.
Foi apresentado ao público na cerimónia de entrega de prémios do Concurso de Escrita Criativa da Escola EB 2,3 Abade Correia da Serra, no dia 4 de Fevereiro de 2010.











ACONTECIMENTO | ENTREGA DE PRÉMIOS DO CONCURSO DE ESCRITA CRIATIVA (parte 2)














ACONTECIMENTO | ENTREGA DE PRÉMIOS DO CONCURSO DE ESCRITA CRIATIVA (parte 1)














ACONTECIMENTO | CERIMÓNIA COM SABOR A TRADIÇÃO


Distinguidos os vencedores do CONCURSO DE ESCRITA CRIATIVA na EB 2,3 Abade Correia da Serra


No passado dia quatro de Fevereiro, na sala de convívio da referida escola, foi realizada a Cerimónia de Entrega dos Prémios do Concurso de Escrita Criativa.
Este evento foi organizado pelo 8ºB, em Área de Projecto, tendo sido adoptado o tema da Tradição. Contou com a assistência de muitos alunos, professores e pais. Com o objectivo de distinguir os alunos que melhores resultados obtiveram nas diversas actividades e concursos deste estabelecimento de ensino, no alinhamento constou a entrega dos certificados e das várias distinções aos estudantes e a performance de vários números preparados para o efeito.
A festa foi iniciada pela professora Isabel Louzeiro, directora da escola, que proferiu um pequeno discurso, no qual realçou o mérito dos alunos participantes nas actividades e incentivou uma vez mais os presentes a interessarem-se por estes eventos promovidos pela escola. Depois seguiu-se a entrega dos certificados de participação nas Olimpíadas do Ambiente, pela professora Belmira, a um extraordinário número de setenta alunos.
Foram diversas as intervenções de alunos neste evento, entre elas a participação do 7.º A que apresentou um pequeno happening sobre provérbios e quadras populares. Seguiu-se a entrega dos prémios de escrita criativa do 1.º ciclo, pela professora Lúcia Chaveiro, sendo vencedores as alunas Cristiana Guerreiro, Laura Pimenta e Maria Cano.
Entretanto, os alunos do 8º B, organizadores desta festa, versaram o tema da Tradição, apresentando um documentário acerca de Serpa e do seu castelo.
No 2.º ciclo, 5.º ano, turma B, destacaram-se as alunas Marta Machado (1.º prémio), Joana Morais (2.º prémio) e Isabel Corceiro (3.º prémio). No 6.º ano, brilharam os alunos Mariana Oca, do 6.º A, André Martins, do 6.º B e Mónica Gomes do 6.º C, com o 1.º, 2.º e 3.º prémios respectivamente.
Relativamente ao 3.º ciclo, no 7.º ano, conquistaram os galardões as alunas Ana Maria do Rosário do 7.º A, Sara Cordeiro do 7.º B e Joana Bule da mesma turma. No 8.º ano, evidenciaram-se os alunos João Mestre do 8.º A, Mélissa Ramalho do 8.º B e Tiago Catarino do A. Por fim, o 9.º B conquistou todos os prémios, pela seguinte ordem: José Galamba, Sara Valente e Helena Gato.
Foram igualmente distinguidos os alunos que participaram no Concurso de Máscaras de Halloween.
Terminada a distinção dos alunos e as actuações das turmas, foi representada, pelos alunos do 8º B, a peça de teatro “O João Parvo”, um conto popular cómico, que distraiu a plateia presente. Posteriormente foi apresentado o Making-of de todo espectáculo.
Entre a entrega de prémios e as actuações das turmas, a banda de folclore alentejano, guiada pelo professor de moral, Jorge Mata, intitulada “As Margens do Guadiana”, tocou músicas da nossa tradição, como, por exemplo, o tema “Vila de Frades”. E foi assim também que se finalizou a cerimónia.

André Afonso, 9.º B

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CONTO | O PRÍNCIPE POMBA


Era de uma vez um carvoeiro que tinha três filhas e p’ra sobreviver tinha que ir à lenha. Depois fazia carvão e vendia. Mas um dia choveu. Choveu nunca pôde ir à lenha p’r ‘áquele mato mais fechado. Lembrou-se ir assim p’r ‘áquele mai pequenino p’ra nã se molhar. Depois foi, passou por ô pé d’ uma horta e olhou lá p’ra dentro, viu lá ‘mas couves. E o que é que ele ‘via de pensar? Em pular lá dentro e róbar uma.


Assim que entrou p’ra dentro da horta sentiu ‘ma pancada nas costas, vai a olhar: um preto. E depois o preto disse-lhe que o levava preso. Mas depois ele lá le pediu desculpa e ‘teve-le contando a situação: que tinha três filhas e que nã tinha nada p’ra sobreviver, que tinha vindo à lenha… E depois o preto disse-lhe:
— Bom, nã te faço mal mas tens que me dar a tua filha mais nova.
Bom, ele, no ôtro dia foi e levo-le a filha mai nova. Ficou lá na horta, tinhom um grande palácio e a filha ficou lá e ele vei’-s’ embora. Vei’ s’embora e a filha ficou lá e, todas as noites, depois dela se deitar, aparecia uma pomba lá no quarto e aquela pomba transformava-se num príncipe. E o príncipe deitava-se com ela. Depois de manhã saía, ia-se embora.
E ela um dia começou a andar muito triste, muito triste, e depois ó preto que sentia muita falta da família. Ele disse-lhe:
— Nã pense na sua família menina, olhe que a su’ família vai-lhe dar cabo da sua vida.
Mas ela começou a chorar. Começou a chorar, diz ele assim:
— Atão pronto! Deixe estar qu’ amanhã cedinho vai ter cá, vai ter cá a sua família.
No outro dia lá ‘tavom as irmãs, lá ‘tiverom… E as irmãs p’los jeitos ela diria-le da pomba e as irmãs p’los jeitos puserom-se a espreitar. Puserom-se a espreitar, viom, à noite vir aquela pomba, lavava-se ali numa bacia de água e depois ia-se a deitar com ela. E o que é que elas haviom de pensar: cortarem vidros e pôr na bacia.



A pomba, naquela noite veio, foi tomar banho, foi-se lavar à bacia, cortô-se. Ficou muito ferida e abalou, foi-s’ embora. Abalou foi-s’ embora e o palácio desapareceu. Desapareceu palácio e elas ficarom ali na rua. Ela e as irmãs e o preto. Depois … lá foi a ‘tar com o preto, toda chorosa e o preto disse-le:
— Nã’ chores. Toma lá este novelo de fio e tu jogas-o. Ma’ nã lhe dêxes a ponta. Ê nã te disse que as tuas irmãs te armavom uma traição?! Nã chores. Toma lá este novelo de fio e tu jogas-o a rebolar, mas nã largues a ponta e se fores (vás, vás, vás) onde o fio acabar, é que tu encontrarás o palácio.
Bom, ela assim fez, jogou o novelo de fio a rebolar. Ora, andou uns poucos de dias, andou, andou até que chegou a um certo sítio, onde ‘tava um palácio, depois lá bateu à porta, apareceu uma aia e lá foi falar com a rainha e depois mandarom-na entrar e lá le derom um quarto p’ra ela ficar.
Lá ficou nesse quarto, passou-se tempo e ela teve um menino qu’ era do príncipe pomba que ia lá deitar-se com ela. (Teve um menino e essa aia foi ao quarto…) E a pomba vinha à mesma. Vinha lá. E a aia foi dizer à rainha que aquela menina que ‘tava lá, que tinha um menino que era. Muito parecido, que era igualinho ó Príncepe Pomba. Mas a rainha nã ligou. E ele nessa noite veio, a pomba veio e trouxe-lhe uma toalha em oro, ou bordada a oro ou qualquer coisa assim. E a aia viu-a e conheceu-a e foi dizer à rainha que o menino tinha uma toalha que era tal e qual a do Príncipe Pomba. Mas a rainha tamém nã le ligô assim. Depois, na ôtra noite, ele veio, trouxe-l’ um manto e ôtra coisa que ê nã me lembra agora…. E a aia depois, viu aquilo e foi ôtra vez a dezer à rainha e a rainha já … chamou a atenção e veio ver. Veio ver e depois fechô-se no quarto com a menina e depois ‘teve-le perguntando e ela ‘teve-lhe contando tudo o que se passara. E ela disse-lh’ assim:
— Cond’ ele viere hás-de- le perguntar o qu’é qu’é preciso p’ra le tirar o encanto.


E cond’ ele vinha, vinha lá dormir, transformava-se num príncipe munto bonito. (Foi o que a rapariga contou depois à rainha. A rainha era a mãe dele.) E quand’ ele veio, a seguir, essa noite, ela perguntou-le o que é qu’ era preciso fazer p’ra le tirar o encanto. E ele disse qu’ era simples, era só a boa vontade da mãe dele.
— Minha mãe manda fazer um tanque aí no jardim, e quando o tanque ‘tiver cheio de água do jardim, hã’-de vir três bandos de pombas: um preto, um bando preto, e o outro assim, já mai’ claras, e vem um de pombas brancas. E nessas pombas brancas, a minha mãe que encha uma bacia d’água, e a da frente sou eu. E s’ a minha mãe conseguir jogar a água e apanhar-me resolve o encanto. Bom, ela lá contou à rainha o que ele tinha dito e a rainha mandou fazer [aquilo]. Quando o tanque ‘tava cheio de água lá do jardim, encheu uma bacia e depois lá se pôs à espera, lá veio o bando de pombas pretas, e depois o outro mai’ claro, e quando veio o das pombas brancas ela joga a água da bacia e depois lá o conseguiu apanhar e ele depois transformou-se num príncipe. Transformou-se num príncipe e depois lá ficou muito contente e casou então com ela. E o filho era dele.


Informante: Maria do Rosário Ruivo, Monte dos Pedros (Vale do Poço, Serpa)
Recolhido em Junho de 2009
(António Lopes, Cláudia Machado, Sofia Amorim)

CONTO | O MOLEIRO


Era um moleiro muito pobre e que tinha muitos filhos. Vivia numa casa muito simples, muito humilde e era no tempo da miséria. E depois com tantos filhos ainda mais, maior era a miséria. E tinha um vizinho que era muito rico e que era comerciante, vendia farinhas e, por umas quantas vezes vendeu-lhe farinha fiada. Mas chegou a um ponto em que disse que já não lhe dava mais e ele via os filhos com fome e pensou em ir correr mundo para ver se havia uma vida melhor para dar aos filhos dele. E abalou. E ele era cego. A mulher ficou com os filhos e ele lá abalou. Assim que se fez de noite, como era cego, subiu para cima de uma árvore. Por essa noite afora apareceram três fadas e puseram-se a conversar debaixo da árvore. E uma disse:
– A rainha de tal terra está cega. Se ela esfregasse um raminho desta árvore pela vista começava a ver.
E outra disse:
– Ôh! Atão e a princesa lá daquele palácio que tem estado tão doente! ... Mas não sabem que está um sapo dentro da tina do azeite…. Se eles tirassem de lá o sapo, o matassem, e o pusessem no fumeiro, à medida que ele ia secando a menina punha-se boa.
E a outra disse:
– E naquela terra, lá do outro lado, anda tudo com uma falta de água, os bichos a morrerem à sede… E à parte de cima da povoação está um grande seixo. Se dessem lá com uma maceta duas ou três vezes, a água corria por ali abaixo e era uma fartura de água para todos. Ele estava a ouvir, continuou muito caladinho e elas foram-se embora. Mal elas abalaram, ele passou logo com um raminho da árvore pela vista e começou a ver. Assim que amanheceu abalou e dirigiu-se a essas três povoações: Primeiro foi àquela onde a princesa disse que estava muito doente e disse que era capaz de curar a princesa. Eles não o queriam deixar entrar mas depois, assim que disseram ao rei que ele dizia que era capaz de curar a princesa, o rei disse que entrasse, mas se fosse mentira que o mandava matar. Ele disse que não era mentira e disse que dentro da tina do azeite estava um sapo. Se o matassem e o pusessem ao fumeiro, à medida que ele fosse secando ela ia melhorando. Eles foram à tina do azeite e lá estava o sapo. Conforme fizeram aquilo, a princesa ia melhorando de dia para dia. Depois ele foi-se embora. Mas eles ficaram tão contentes que lhe deram um saco de dinheiro e arranjaram-lhe uma carroça puxada por um cavalo, para ele levar. Ele seguiu mais para diante e foi àquela terra onde andava tudo cheio de sede. Chegou lá, disse que precisava de uma maceta. Havia quem tivesse. Assim que ele dá ali duas ou três marteladas no seixo, aquilo correu um torno de água que foi uma fartura para todos. Bom, outra vez a população muito contente, mais uma mãcheia de dinheiro lhe deram e lhe agradeceram, não sabiam como lhe agradecer, de tão contentes que ficaram.
Foi mais para diante à outra terra onde estava a tal princesa que não via. Ele lá levava um ramo daquela árvore. Mandou-a à mesma chamar e disse que era capaz de curar a princesa, que ela havia de começar a ver, e deixaram-no entrar. Ele lá lhe disse para ela passar três vezes com aquele raminho pela vista, que havia de começar a ver e o mesmo aconteceu: ela curada da vista e lá lhe deram mais um saco de dinheiro. Ora, ele muito contente porque via os filhos com tanta miséria e a casa com tanta miséria… regressou a casa.
Depois foi lá à daquele comerciante a comprar fartura de farinha, arranjaram a casa, arranjaram outras condições ao filho dele e muito satisfeito ficou pois tinha muita fartura para dar aos filhos…. O outro comerciante tinha muito mas ainda estava com inveja, queria ter mais do que o que tinha e disse-lhe que o fosse levar onde ele tinha arranjado a fortuna dele. Ele disse lhe que estava bem. Foi e disse:
– Olhe onde eu arranjei a minha fortuna foi em cima desta árvore.
Lá chegaram à mesma ao anoitecer. Ele voltou para casa e o vizinho ficou lá em cima da árvore. Por essa noite afora apareceram as três fadas e disseram:
– Naquela noite que a gente esteve aqui a conversar tinha que estar alguém a ouvir porque tudo o que a gente aqui falou foi o que fizeram, que aconteceu. E então tinha que estar alguém a ouvir.
Olham para cima, vêem aquele lá. Descobrem-no lá, fazem-no cair p’ra baixo e matam-no.
Ele era muito ambicioso e de tanta ambição que tinha acaba por perder tudo. Tinha muito mas ainda queria muito mais. Como viu o outro…. É assim o final desta história.

Informante: Susete Vargas, Vale do Poço (Serpa)
Recolhido em Novembro de 2007

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CONTO | O HOMEM MAU E O HOMEM BOM


De maneira que era uma terrazinha que havia no Alentejo, pequenina. E então os homens costumavam-se sentar, já assim velhotezinhos, sentar todos assim num banco. E havia um que era muito bom, muito bom, muito bom, desde pequenino que era muito bom, mas sempre foram amigos até serem velhos, e havia outro que era muito mau. Manê’ que aquele qu’ era muito mau batia, já tinha batido em todos, menos naquele que era muito bom que nunca arranjou um pé p’ra lhe bater.
–– Homem esta! Atã mas tenho batido neles todos e neste na lh’ hei-de bater?! Ê tenh’ qu’ arrenjar um porquem p’ra lhe bater.
Os ôtros deziam-lhe:
–– Mas o qu’ é que tu queres arrenjar se vês qu’ és piquinino e já temos todos sessenta anos e ’inda n’ arrenjastes um pé p’ra bateres no rapaz, no homem, e agora queres-lhe bater já com esta idade?!
–– Bat’-lhe! Ê na morro sem lhe bater!
Bom, o homem tinha o jeito que condo chigava ali, cond’ chigava ali p’ra, cond’ se juntavom todos ali naquele banco, e ali naquele... sentavom-se em volta ali duma árvore que havia, dizer aquela palavra: «tem graça!». Dizia sempre: «tem graça!»
O outro começou a pensar um dia: «homem, há tantos anos dezendo sempre “tem graça”, por aqui é que tem que começar. Ê por esta palavra tem’ que lhe bater!
Ora os outros deziom:
–– Tão agora o homem diz: «tem graça» e queres-lhe bater?!
–– Virão a ver s’ ê nã lh’ heid’ bater!
Manêra que um dia o homem chega, todos sentados e diz:
–– Tem graça!
Diz el’ aqui assim:
–– Ah sim?! Tal é o que me chamastes!?
— Atã’ o qu’ é qu’ o homem te chamou? –– todos eles — atã o qu’ é qu’ o homem te chamou? Tem dito sempre: «tem graça»!?
— Olhem! Ê vou-lhe dezer o que ele me chamou, e virão a sova qu’ el’ apanha! «Tem graça!» Olhem: graça do Senhor; Senhor dos Passos; paços de concelho; conselho de guerra; guerra junqueira; junqueira água; água mar; mar azul; azul tinta; tinta papel; papel branco; branco leite; leite de vaca; vaca boi; boi tem cornos; chamou--me cabrão!
Deu-lh’ uma sova, e os outros:
–– Dêx’ ô homem! Dêx’ ô homem!
–– Não o deixo que me chamou cabrão! Tem’ que bater-lhe.
Vitória vitória, acabou-se a história.

Informante: Francisca Calvinho, Vila Verde de Ficalho (Serpa)
Recolhido em Abril de 2009

CONTO | O COELHO NO ARMÁRIO


Era um velho bigodelho pinçapelho sinçarelho
Que foi ao mato bigodato pinçapato sinçarato
E matou um coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho.
Veio de lá e disse à velha bigodelha pinçapelha sinçarelha
Que não guardasse o coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho
No armário bigodário pinçapário sinçarário,
Por mor do gato bigodato pinçapato sinçarato,
Que comia o coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho.
Foi dali a velha bigodelha pinçapelha sinçarelha
Guardou o coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho.
No armário bigodário pinçapário sinçarário,.
Veio de cá o gato bigodato pinçapato sinçarato,
E comeu o coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho..
“Não lhe dizia eu sua velha bigodelha pinçapelha sinçarelha
Que o gato bigodato pinçapato sinçarato,
Comia o coelho bigodelho pinçapelho sinçarelho?!”

Informante: Elisiário Gregório Horta, Serpa
Recolhido em Junho de 2008
(António Lopes)

CONTO | O PRÍNCIPE E O LIMÃO


Era uma vez um príncipe. Quando chegou à idade de casar, o rei, seu pai, mandou apregoar por todo o reino que todas as raparigas em idade de casar se deveriam apresentar no palácio para que o príncipe pudesse escolher.
Vieram de todo o reino e de fora dele, princesas e condessas, raparigas de todas as condições. Mas nenhuma foi escolhida. Até que a filha de um vassalo do rei, sem que seu pai soubesse, decidiu ir também à presença do príncipe. E como era muito bonita, muito engraçadinha, foi ela a escolhida. E tendo sido escolhida ficou a viver no palácio. Mas o seu pai não sabia, nem o pai nem a mãe.
Depois da escolha do príncipe, as outras pretendentes foram mandadas embora e o príncipe, com a convivência, começou a gostar cada vez mais da rapariga, de tal modo que esta, preocupada pelo facto de nem o pai nem a mãe saberem onde estava, pensou numa maneira de se ir embora.
Um dia, estavam num salão e havia um jardim com limoeiros. E a filha do vassalo disse ao príncipe que ia ao jardim buscar um limão. Foi mas já não voltou. [E regressou a casa dos pais.]
O príncipe adoeceu e ficou na cama doente e só dizia “ limão, limão”. E o vassalo do rei, quando chegava a casa dizia à mulher e à filha:
— Sabem, o príncipe está muito doente. Está de cama, não fala e só o que diz é “limão, limão”. Está muito doente, vêm médicos de todo o mundo e não o curam, não sabem o que é que ele tem…
Até que um dia a rapariga disse ao pai:
– Eu sei o que é que ele tem. Quem o vai curar sou eu!
– Não me digas isso, que eu ainda perco o trabalho.
E a filha do vassalo lá foi ao palácio. Quando lá chegou, toda a gente sabia ao que ela ia e deixaram-na entrar. Então, quando chegou ao quarto lá estava o príncipe a dizer “limão, limão” e toda a gente a olhar e ela pôs-lhe a mão em cima da mão dele e quando ele repetiu mais uma vez “limão, limão”, ela disse-lhe:
– Fechasse-lhe a porta tivesse-lhe mão.
E o príncipe curou-se logo, porque a reconheceu e viveram felizes para sempre.
Ainda a esta hora lá estarão comendo pão com melão.

Informante: Ana José Gonçalves Rações, Serpa
Recolhido em Outubro de 2007
António Lopes, Cláudia Machado)

CONTO | A VELHA DA CABAÇA


Era uma vez uma velhinha que morava sozinha num monte. E então casava-se uma filha que vivia longe dali. A filha morava talvez numa vila ou numa aldeia, mas a velhinha morava sozinha no monte. E então arranjou uma coisinha e lá vai ela ao casamento da filha. Quando chegou a certo sítio, assim mais isolado, aparece-lhe um lobo:
– Ai velhinha, eu vou-te comer!
E ela começou toda muito triste:
– Não me comas. Eu estou magrinha, tenho o estômago despejado. Agora vou ao casamento da minha filha, venho de lá com a barriguinha cheia e depois tu comes-me.
– Então está bem. Então vai lá.
A velhinha comeu e bebeu, toda muito feliz no casamento da filha
Mas antes de sair de lá contou o que lhe tinha acontecido no caminho. E várias pessoas ajudaram-na, e o que lhe fizeram? Arranjaram-lhe uma cabacinha e meteram-na lá dentro, fecharam-na e puseram a cabacinha a rodar.
Lá vem ela pelo meio de um caminho, quando, de repente, aparece o lobo e pergunta à cabacinha:
– Cabacinha, cabacinha, viste por aí uma tia velhinha?
E a velhinha respondeu lá de dentro:
– Nem velhinha, nem velhão, corre corre cabacinha, corre corre cabação.
E assim desapareceu.


Informante: Ana José Gonçalves Rações, Serpa
Recolhido em Outubro de 2007
(António Lopes, Cláudia Machado)
e Outubro de 2009 (Jorge Raposo da Mata)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CONTO | O JOÃO PARVO

Era uma mulher que tinha um filho, chamava-se João. Mas ele era, coitadito, meio parvo. E então a mãe era muito pobrezinha, e um dia disse-lhe assim:
– Olha, vai-me comprar uma agulha para eu te coser as tuas calças, porque essas já estão todas sujas e todas rotas, mas eu não tenho agulha. Agora vê lá não a percas que eu não tenho dinheiro para comprar mais agulha nenhuma. Traz sempre a agulhinha na mão.
Foi ele foi buscar a agulha. Pelo caminho viu uns miúdos a brincar e foi e diz assim:
– Eu também vou brincar! – estava ali um moitão de palha – Mas onde é que eu hei-de pôr a agulha que não se perca? – vai pôr a agulha no meio da palha.
Quando acabou a brincadeira, lá vai ele à procura da agulha na palha. Onde é que estava a agulha? Não a encontrou!
Chegou cá a casa, diz assim a mãe:
– Atão a agulha?
– Ô mãe, eu trazia a agulha na mão mas adepois vi ali uns rapazes a brincar, pus-me a brincar com eles, pus a agulha na palha, quando vou lá mãe, não estava lá a agulha, não encontrei a agulha.
– Atão uma agulha na palha filho?! Porque é que não puseste a agulha aqui na pala do boné?! – ele usava um boné – Punha-la aqui na pala do boné, e não a perdias!...
No outro dia, diz-lhe a mãe aqui assim... (Lá arranjou cinco tostanitos, coitadinha, naquele tempo…) disse-lhe aqui assim:
– Ai filho não temos nada para comer com o pão! Olha, vai a buscar cinco tostões de manteiga. – era banha de porco — Cinco tostões de manteiga.
Ele o que faz? Vai a buscar a manteiga, onde é que há-de trazer a manteiga? Na boina. Assim que pôs a manteiga na boina, chegou cá com a boina, já se sabe, toda cheia de nódoas, toda cheia de manteiga.
Diz-lhe a mãe aqui assim:
– Ai filho da minha alma, atão agora puseste a manteiga na boina?
– Atão mãe, não foi o que tu me disseste?
(Tinha-lhe dito a mãe mas era para pôr a agulha.)
– Ai não filho, tinhas pegado numa “tejala”, e tinhas trazido a manteiga na “tejala”.
No outro dia, vai um rapaz e diz-lhe assim:
– Olha, vai lá a minha casa que eu dou-te um canito. Mas leva uma coisa qualquer para o trazeres porque, porque ele é muito “piquinino”...
E ele o que faz? A mãe tinha ali uma tigela grande, que era onde fazia as açordas, e era onde fazia os caspachos, e era onde migava as sopas para o caldo, e era… servia para tudo. Ele pega na tejala, que era grande, e vai a buscar o cão. Ora o cão borrou-se todo e borrou aquilo tudo, o cão dentro da tejala. Manêras que chegou cá, a tejala era de barro:
– Ai filho da minha alma! Ai bendito seja Deus! Atã tu meteste o cão aí, e agora eu já vou aí a fazer os gaspachos e as açordas e a deitar os caldos aí nisso? Não pode ser de maneira nenhuma!
– Atã mãe, o que queria que eu fizesse?

– Ó filho, tinhas levado uma cordinha, e tinhas-lhe atado ao pescocinho, e tinha-lo chamado: «bucha, bucha, bucha, bucha,...» o canito vinha.
Bom, no outro dia a mãe, partiu-se-lhe a enfusa, e disse-lhe aqui assim:
– Olha, tens que ir a comprar uma enfusa. Vai lá a comprar a enfusa.
Deu-lhe o dinheiro para a enfusa, ele o que faz: vai a comprar a enfusa e leva a corda. Leva a corda, ata a corda à asa da enfusa: «trru tu tu tu, trru tu tu....», veio arrojando a enfusa, quando chegou cá só trazia a corda e a asa da enfusa, não trazia mais nada. Diz a mãe:
– Ai filho da minha alma, eu já não te posso aturar; de maneira nenhuma! Olha, eu não sei, ou morres tu ou morro eu, que isto não pode ser de maneira nenhuma esta vida assim! Olha, toma lá esta viola velha que está para aqui que era de teu pai, e vai lá aí por esse mundo a tocar viola, a ver se ganhas alguma coisa para comeres, porque eu não ganho para o que tu desperdiças. Tive que comprar uma tigela, tive que comprar uma, uma enfusa, e tu estragas tudo! Tive que comprar manteiga, e manêras que isto assim não pode ser. Vai lá aí por esse mundo, toca viola, a ver se me deixas a alma sossegada, e depois aparece cá daqui a um tempo.
Ele pega na viola e vai por ali. Vê um moitão de gente, muito grande, que era um funeral. Diz ele: «É pá, tá além tanta gente, eu mesmo agora vou além a tocar.» Estava tudo chorando, claro, porque era um funeral, tinha morrido uma pessoa, quando ele chega ali:«tan, tran tan tan.....», pôs-se a tocar na viola. Ora, deram-lhe uma grande sova:


– Ora, atão agora aqui, o defunto aqui, uma pessoa aqui morta, e a gente aqui chorando e você tocando?! Você quando vir assim um ajuntamento destes, vir uma coisa destas, ponha-se mas é a chorar.
– Ó, desculpem, mas não me batam mais... – e assim e assado, lá se foi.
Chegou, estava uma matança, assim na rua, estavam matando um porco, com tudo ali muito contente e aquela coisa toda. Quando ele chega ali, com a viola aqui assim no braço, começa: «Ai, ai que desgraça...»
– Ah! Mas agora que conversa é essa?! Atã você em vez de se pôr aqui a rir e a cantar aqui com a gente, agora põe-se, põe-se a chorar?!
– Atã o que é que hei-de fazer?!
– Ó homem, você em chegando a uma coisa destas, dê-lhe assim uma palmada aqui nas nalgas e diga-lhe aqui assim:
– Muita saúde tenha quem te coma! – (pois, quem comesse o porco).
Ele vai mais para diante, mais para diante o que é que ele vê: um homem coitadinho a fazer as suas necessidades, mas o homem coitadinho, tinha prisão de ventre e dali não saía nada. E estava o homem: «ai, ai, ai...» Ele vai, chega-se além ao rabo do homem, dá-lhe um nalgada e diz:
– É, muita saúde tenha quem te coma! [risos do contador e das crianças]
Diz o homem assim:
– Ó homem, atã você, uma coisa destas! Você quando vir um problema destes diga: «Deus queira que saia todo! Deus queira que saia todo!» Eu estou aqui tão aflito! [risos]
Vai para diante, o que é que ele há-de ver? Um pote daqueles grandes que havia antigamente, uns potes grandes, assim da altura desta casa, não era mentira nenhuma, cheios d’ azeite. Mas o pote, rompeu-se, e o azeite estava a sair, e estava tudo tudo tão aflito, e diz ele assim:
— Deus queira que saia todo! Deus queira que saia todo!
Ó, deram-lhe ali uma sova que o iam matando. [risos]
– Atã você, está vendo o azeite todo a sair... (...) todo para fora, e você está dizendo «Deus queira que saia todo! Deus queira que saia todo !» ?!
– Atã o que digo? O que digo?
– Deus queira que não saia nenhum! Deus queira que não saia nenhum! [risos]
Foi mais para a frente, o que é que ele vê vir? Vê vir um homem que andava a guardar, a guardar os porcos, muitos porcos! E então havia, choveu muito, houve uma trovoada muito grande, um lamaçal muito grande, e os porcos coitadinhos estavam todos atascados, dentro da lama, só já se lhe viam as orelhinhas... E o homem coitadinho sem saber o que havia fazer... (...) e o homem numa aflição muito grande, e ele atã pôs-se assim de roda do homem: [risos]


– Eh! Deus queira que não saia nenhum! Deus queira que não saia nenhum! [risos]
O homem, deixa os porcos, vai-se a ele, dá-lhe uma tareia tão grande, tão grande, tão grande, tão grande, que ele o que é que pensou: «Eu vou mas é a voltar para casa senão matam-me!»
Lá volta ele outra vez para casa e diz:
– Olhe mãe, eu ainda estou melhor aqui do que em lado nenhum! (...) Iam-me matando com (...) [risos]
Pronto, e lá ficou ele com a mãe, e acabou-se o conto. [risos]

Informante: Francisca Calvinho, Vila Verde de Ficalho (Serpa)
Recolhido em Abril de 2009 (António Lopes)

CONTO | PEDRO E O GIGANTE


Era um rapaz que se chamava Pedro e os Pedros, lá naquela terra tinham muito má fama, de serem assim muito turbulentos, fazerem assim muitas peças… E o gigante também não tinha boa fama, por ser muito mau para os criados, e o Pedro ia à procura de patrão, juntavam-se assim todos no mercado, perguntavam…
O gigante foi à praça consertar um rapaz e encontrou o Pedro e este disse-lhe que queria arranjar um patrão e o gigante disse que se ele se queria consertar com ele… E o Pedro disse que estava bem.
Depois foi com o gigante lá para casa dele e o gigante, à noite, punha-se a dizer à mulher o que é que iam a fazer no outro dia. Mas o Pedro como era “tamém” muito esperto e já sabia que o gigante tinha assim “tamém” muita maldade, escutava o que é que ele dizia à mulher e já se prevenia.
Uma noite o gigante disse para a mulher:
- O Pedro tem muita fama de mau, amanhã vou dizer-lhe se ele quer dar uma luta comigo, a ver qual é o que ganha.
O Pedro estava a ouvir e pensou: (…)
Assim por trás do monte havia um local onde punham o estrume e ele fez uma cova onde se escavava facilmente e põe assim umas canas e tapa. E quando o gigante lhe propôs darem uma luta, ele disse que estava bem mas tinha de ser num sítio escolhido por ele. E então foram p’ra lá, e ele fez com que o gigante ficasse daquele lado, vai com a espada tentando lutar, cai o gigante lá p’ró buraco.
Diz o gigante p’rá mulher:

- Oh, realmente diziam isto do Pedro e é verdade: então hoje fomos dar uma luta, até me meteu pelo chão abaixo. Amanhã vamos ver qual é o que é capaz de atirar a pedra mais longe.
O Pedro estava outra vez a ouvir. Os outros criados atiravam mas as pedras ficavam logo ali ao pé. Ele pegou numa perdiz e esfregou-a na terra muito esfregadinha, assim toda muito empoeirada e enquanto os outros jogavam a pedra ficava logo ali perto, ele jogou-a, desapareceu. Nunca mais a viram.
À noite o gigante dizendo outra vez à mulher:
- Ora este Pedro! Então eu mandei a ver qual era o que atirava a pedra mais longe, ele atira a dele, nunca mais a vimos. Desapareceu. Amanhã vamos espremer um seixo, a ver qual é o que o faz deitar água primeiro.
Ora os outros vá de apertarem o seixo, não deitava nada e ele arranjou um queijo fresco e conforme o apertava na mão, deitava água por todo o lado.
À noite o gigante outra vez dizendo à mulher:
Ora este Pedro, à noite em o apanhando dormindo jogo-lhe a mó do moinho p’ra cima, porque eu não dou nada feito dele! Atão quando ele faz aquilo de um seixo, espreme-o deita água por todo o lado, o que fará de mim???
À noite, assim que o apanha dormindo… Ele já se deitou noutro lado lá próximo, mas aonde não lhe pudesse cair a mó do moinho em cima.
Ao meio da noite, o gigante joga a mó do moinho p’ra baixo a ver se o apanhava e o matava, diz ele assim, assim que cai a mó do moinho cá em baixo:
- Quem é que me está cuspindo p’ra cima?
O gigante abala a correr, e vai p’ra casa e diz outra vez à mulher:

- Amanhã dou-lhe um burro carregado de dinheiro e mando-o já embora, que eu já não sei o que lhe hei-de fazer, senão ele ainda ele dá mas é cabo de mim, diziam isto dele e é verdade.
Mandou-o embora mas assim que lhe deu o burro carregado de dinheiro começou a pensar: “Ai, mas o que eu fiz! Tanto dinheiro! Eu ainda vou mas é atrás dele.
O Pedro, como era muito esperto, vê vir o gigante o que é que faz: esconde o burro assim nuns casebres e põe-se com um pé assim no ar e o boné olhando p’ró céu. E o gigante diz:
- Mas o que é que estás tu fazendo aqui? O burro que eu te “di” carregado de dinheiro?
- Ora vinha aí puxando por ele , ele já não queria andar, vinha já tão irritado, dei-lhe um pontapé, ele desapareceu por esses ares, nunca mais o vi. Estou farto de olhar e nunca mais o vi.
O gigante já não lhe disse nada, voltou p’ra trás e ele ficou com o burro carregado de dinheiro e ficou rico, por causa das ideias dele e das maldades que ele tinha.


Informante: Susete Vargas, Vale do Poço (Serpa)
Recolhido em Novembro de 2007
(António Lopes, Cláudia Machado, Sofia Amorim)

A FALAR



É conhecida a expressão “a falar é que a gente se entende”. Com efeito, toda a nossa vida gira à volta das palavras ditas. Muito mais do que a escrita, para a qual é necessária uma preparação demorada e uma disposição particular, a fala é espontânea e, desde os nossos primeiros anos de vida, uma acção normal e rotineira.
Falamos quando estamos alegres, falamos quando estamos tristes, falamos sobre tudo e sobre nada, falamos quando estamos acompanhados e, por vezes, falamos mesmo sozinhos.
Apesar da oralidade ser o nosso meio principal de comunicação, falta-lhe o registo. Muito pouco do que é dito fica registado e, por isso, acaba por se perder. Esse é o seu principal defeito. Mas é essa autenticidade e naturalidade que acaba por constituir, simultaneamente, a sua maior virtude. Falar é fácil, imediato, instintivo. E aprendemos um mundo de coisas quando falamos com alguém. A conversa aproxima as pessoas, fá-las partilhar vivências e conhecimentos, projectos e anseios. Mesmo quando discordamos do que está a ser dito, aprendemos sempre e sobretudo tornamo-nos pessoas mais conscientes e informadas. Este conhecimento não tem preço e é indispensável para a formação de cada um de nós.
É o reconhecimento da importância da tradição oral e desta forma de transmissão da memória colectiva, que levou os estudiosos das sociedades humanas a procurar todos os sinais e testemunhos vivos, que pudessem relatar os seus saberes, as suas experiências e histórias de vida. A própria pesquisa histórica começou, desde há 40 anos a esta parte, a interessar-se cada vez mais pelas épocas mais recentes e por estes testemunhos directos da vida passada. Ultrapassou-se, desta forma, a mera indagação do que aconteceu no passado, para ser possível, por exemplo, ter a percepção de como as pessoas se sentiam nessas épocas e como viveram os vários acontecimentos testemunhados. Mais. A própria memória dos contemporâneos passou a ser valorizada como um elemento indispensável para o entendimento das sociedades em que vivemos. Essa ligação entre memória e história possibilitou o reconhecimento da importância dos testemunhos directos que, através da transmissão oral, se tornaram uma fonte adicional de pesquisa e de conhecimento.
Complementam-se, assim, estas duas perspectivas de análise social e de entendimento do devir das sociedades humanas. Enquanto a História produz um conhecimento racional, o mais objectivo possível e baseado numa exposição lógica dos acontecimentos passados, a memória permite também aceder ao conhecimento do passado mas, desta feita, através da subjectividade e flexibilidade dos testemunhos, baseada em sentimentos, emoções e vivências. Aquilo que é dito – mas também aquilo que não é dito – constituem peças indispensáveis para a compreensão da nossa existência. Sobretudo numa época em que as novas tecnologias de informação e comunicação provocam uma acentuada aceleração do tempo, em que o imediato relega o que passou para o puro e simples esquecimento, a recuperação da memória e da história, tornam-se indispensáveis.
Por isso a preservação da tradição oral é tão valiosa e tão urgente. Para que este património cultural não caia no esquecimento. Para que possa ser lembrado e transmitido. Para que a vida colectiva tenha mais significado e para que todos possamos ser melhores pessoas.

CONTOS D'AQUI | O PROJETO

Tudo começou com a preocupação da Biblioteca Escolar em incluir nas suas actividades a tradição oral. Já há dois anos que, quinzenalmente, um dos elementos da equipa se encarrega de dinamizar uma sessão de contos tradicionais locais. Estes contos surgem de recolhas efectuadas no concelho de Serpa e têm tido crescente adesão por parte da comunidade educativa. Por mais de uma vez já passaram também pela escola outras pessoas, nomeadamente familiares de alunos, que enriqueceram esta actividade com as histórias que eles próprios sabem contar. Por outro lado, estes contos tradicionais têm vindo a ser trabalhados na disciplina de Língua Portuguesa, constituindo, ainda que de forma informal, um precioso recurso educativo em sala de aula. Desta forma, não só elementos da cultura local passam a integrar as aprendizagens curriculares, como a utilização dos contos populares de tradição oral permitem a preservação destes testemunhos fundamentais da identidade da região.
Surgiu então a ideia de aproveitar esta experiência para concorrer à Candidatura de Mérito 2009 da Rede de Bibliotecas Escolares. E a nossa candidatura foi aprovada! Foi, aliás, a única em todo o Alentejo. A bem dizer, foi a única candidatura aprovada a Sul do rio Tejo. Isso deixa-nos naturalmente orgulhosos, mas cientes de que é grande a responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros.

Um trabalho como este apenas fará sentido se for partilhado. Este projecto, com a duração de dois anos lectivos (2009-10/2010-2011), permitirá não só um envolvimento alargado da comunidade escolar, como uma efectiva interacção com a comunidade local, principalmente junto daqueles que são um testemunho vivo do seu mais precioso património – os contadores de histórias. Possibilitará ainda a integração do conto popular de tradição oral do concelho de Serpa no currículo escolar e o seu aproveitamento como recurso pedagógico em sala de aula, promovendo um leque alargado de competências e contribuindo assim para o sucesso escolar dos alunos.


Nessa medida, prevê-se a criação de vários tipos de produtos finais que, por um lado, potenciem o material recolhido e que, por outro, possibilitem a participação do maior número possível de pessoas, multiplicando, desta forma, as valências de cada um. Desta forma, proceder-se-á não só à recolha de contos junto dos contadores e ao seu registo áudio e vídeo – produtos que constituirão um arquivo vivo da memória da região – como a uma posterior transcrição e tratamento, com vista à sua utilização didáctica. Esta constitui, sem dúvida, a base de todo o projecto. A partir daqui será feita a edição de uma antologia de contos populares – que serão ilustrados pelos alunos – acompanhada de um caderno de actividades pedagógicas com fichas exploratórias sobre o material existente. Com vista à máxima divulgação das actividades efectuadas e com o intuito de sensibilizar toda a comunidade escolar e local para a importância da preservação deste património, será criado um blog e editados dois números do jornal escolar Correio da Serra, exclusivamente dedicados à temática. Pretende-se, aliás, que o blog, plataforma privilegiada de divulgação das actividades desenvolvidas, bem como de contacto e comunicação entre os seus promotores e todos os interessados, se mantenha activo para além do limite temporal do projecto. Complementarmente prosseguirá a iniciativa “Hora do Conto”, que se realiza já na escola com uma periodicidade quinzenal e com uma adesão crescente, prevendo-se a realização de duas sessões de conto, abertas à comunidade, com a presença de contadores de histórias, para que estes possam voltar a ter a importância social e o protagonismo que merecem e que, infelizmente, tem sido esquecido. Vamos ao trabalho!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CONTOS D'AQUI | APRESENTAÇÃO


No Alentejo, as histórias ocupam um lugar importante na vida e na memória da comunidade. Os contadores de histórias já quase não existem, mas ainda são recordados como figuras impar na transmissão da cultura e da identidade da região. No seu papel de guardadores das histórias da comunidade, serão talvez os maiores responsáveis pela memória do Alentejo.
Hoje, os contadores de histórias não têm a quem passar o seu legado. Quando desaparecerem, levarão consigo todo esse património. Por isso, torna-se urgente encontrar formas de o preservar. Foi com esse objectivo que nasceu o projecto “Contos d’Aqui – a Tradição Oral como Recurso Educativo”, com que a Equipa da Biblioteca Escolar concorreu à Candidatura de Mérito 2009 da Rede de Bibliotecas Escolares. Em toda a região Sul, fomos o único Agrupamento de Escolas que conseguiu ver aprovado o seu projecto. Estamos orgulhosos, mas também conscientes da nossa responsabilidade. Sem o empenhamento de toda a comunidade escolar, será muito difícil levar por diante o nosso propósito. Precisamos da colaboração de todos para as várias actividades previstas: recolha de contos, criação do respectivo arquivo audio-visual, elaboração de uma antologia e de um caderno de actividades pedagógicas, edição de dois números do jornal escolar dedicados à temática, criação de um blog para a divulgação dos contos populares de tradição oral, bem como a participação no clube “Oficina de Arte e Design”, para a ilustração, paginação, tratamento de imagem e edição dos vários materiais produzidos e nas sessões especiais da “Hora do Conto”, com a intervenção de contadores de histórias do concelho de Serpa.




Não podemos permitir que os contadores partam sem nos deixar o seu legado, demasiado fundamental para o nosso imaginário, demasiado importante para a identidade das gerações vindouras. Vamos partilhar este projecto: vamos procurar quem conta, vamos difundir esse património incontornável, vamos conhecer as circunstâncias em que estas histórias eram contadas. Vamos conhecer mais sobre a nossa comunidade. Vamos falar de nós.